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PSICOTERAPIA

Atualizado: 12 de set. de 2020

“Somos um fluxo de vividos, crenças, anseios ... Sendo capturados, soltos, transformados... Em uma grande teia de possibilidades...” Acredito que minha principal tarefa como Psicóloga é auxiliar, a aquele que acompanho, a caminhar  em direção ao seu universo de sentidos, a fazer contato consigo e clarear suas possibilidades. Quando alguém se distancia de sí  e passa a viver o que é do outro, perde seus sentidos e acaba sendo acometido por  um tipo de vazio existencial. Este vazio, na maioria das vezes, reduz sua potência,  faz a vida parecer sem colorido e o desequilibra. Muitos dos desequilíbrios  vividos hoje, sejam manifestos em depressão,  ansiedade, fobia, pânico ou em adoecimentos diversos, são causados por falta de sentido. Nada pode ser mais desestabilizante do que se sentir perdido, sem brilho, desconectado de seus sonhos e impotente em relação a isto. Atendo pessoas há mais de 30 anos. Pessoas que chegam doloridas física e emocionalmente, magoadas e ressentidas.  Muitas vezes, distantes das riquezas promovidas por suas histórias e das belezas escondidas em si mesmo. Quando comecei a trabalhar com Gestalt-terapia descobri um mundo de possibilidades criativas para dispor em meu consultório.  Me dei  permissão para ser espontânea e ajudar a aqueles que acompanho a se tornarem livres para se encontrar.  

A Psicologia da Gestalt Embora não haja equivalente preciso em português para a palavra alemã gestalt, o sentido mais geral que se pode dar ao termo seria uma espécie de disposição ou configuração de uma organização específica das partes que constituiria um todo particular.  A teoria da gestalt foi inicialmente formulada no inicio do século XIX na Alemanha e Ástria.  Ela se destacou por oferecer algumas sugestões a respeito dos modos pelos quais os organismos se adaptam para alcançar sua organização e equilíbrio ótimos. Um aspecto desta adaptação envolve a forma pela qual um organismo torna suas percepções significativas, a maneira pela qual distingue figura do fundo. A escola gestáltica estendeu o fenômeno figura-fundo para descrever a maneira pela qual um organismo seleciona o que é ou não é de seu interesse num dado momento. Para um homem sedento, um copo de água colocado entre seus pratos favoritos emerge como figura principal contra o fundo menos importante constituído pela comida. A percepção adapta-se à necessidade, capacitando-nos a satisfazer nossas necessidades. Uma vez satisfeita a sede do exemplo, sua percepção da pessoa sobre o que é figura e o que é fundo provavelmente se modificará, de acordo com as mudanças nos interesses e necessidades dominantes. Embora, por volta de 1940 a teoria da Gestalt já tivesse sido aplicada em muitas áreas da psicologia, foi em grande parte ignorada no exame da dinâmica da estrutura da personalidade e do crescimento pessoal. Além do mais, ainda não havia nenhuma formulação de princípios da Gestalt específicos para psicoterapia. Foi Fritz Perls o responsável pela ampliação da teoria da Gestalt na psicoterapia e de uma teoria de mudança psicológica. A abordagem gestáltica inspirou-se em formulações da psicologia e da filosofia, adotando alguns referenciais, tais como, a percepção gestáltica de que "o todo é diferente da soma das partes". A percepção gestáltica propõe que todo fenômeno psíquico seja visto como um todo, em suas relações e dinamismos. Por essa razão a Gestalt não considera o comportamento da pessoa isoladamente. Ela procura explorar a situação em que se deu, sua importância e significado naquele momento e situação. Considera o homem como um ser em relação, seu organismo é um sistema em equilíbrio, ou em constante busca de equilíbrio e auto-regulação em sua relação com o meio. O terapeuta gestáltico é especialmente atento à forma como se expressa o cliente, não só em termos de verbalização, mas também em termos de linguagem gestual, corporal. motora. Perls mostra que a agressividade também desempenha um papel construtivo na maneira como a pessoa se relaciona com o mundo e consigo mesma. Existencialismo e FenomenologiaPerls descreveu a Gestalt-terapia como uma terapia existencial, baseada na filosofia existencial e utilizando-se de princípios considerados existencialistas e fenomenológicos. Embora a Gestalt-terapia não se tenha desenvolvido diretamente a partir de antecedentes fenomenológicos e existenciais particulares, vários aspectos do trabalho de Perls equiparam-se àqueles desenvolvidos em muitas escolas do existencialismo e fenomenologia. A influência destas escolas foi difusa, porém substancial. Perls sustentou que o encontro do terapeuta com um paciente, constitui um encontro existencial entre duas pessoas e não uma variante do clássico relacionamento médico-paciente. A ideia de que mente e corpo constituem dois aspectos diferentes da existência diferentes e completamente separados, era uma noção que Perls, assim como os existencialistas, achavam intolerável. De acordo com suas objeções, assim como não poderia haver cisão entre mente e corpo, abandonou também a ideia da cisão entre sujeito e objeto e, mesmo, a da cisão entre organismo e meio. Ao invés de considerar que cada ser humano encontra um mundo que ele experiencia como sendo completamente separado de si mesmo, Perls acreditava que as pessoas criam e constituem seus próprios mundos. Dessa forma o mundo existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta do mundo. O conceito de intencionalidade é básico, tanto para o existencialismo e fenomenologia quanto para o trabalho de Perls. A mente ou consciência é entendida como intenção e não pode ser compreendida à parte do que é pensado ou pretendido. Os sentidos dos atos psíquicos ou intenções devem ser alcançados em seus próprios termos, fenomenologicamente, e em termos de sua própria intenção particular. Assim, a crítica existencialista da noção freudiana de instintos é a mesma de Perls, e a libido constitui um ato psíquico, nem mais básico nem mais universal que qualquer outro. Todo ato psíquico é intenção, e toda intenção deve ser compreendida em seus próprios termos, e não em termos de um ato psíquico mais básico. Entre o pensamento existencialista, dois temas são da maior importância; a experiência do nada e a preocupação com a morte e o medo. Ao examinar a visão que Perls tem da neurose, veremos que esses mesmos temas também constituem elementos importantes em sua teoria sobre o funcionamento psicológico. O método fenomenológico de compreender através da descrição é básico no pensamento de Perls. Todas as ações implicam escolha, todos os critérios, de escolha são eles próprios selecionados e explanações causais não são suficientes para justificar as escolhas ou ações de alguém. Além disso, a confiança fenomenológica na intuição para o conhecimento das essências assemelha-se à confiança de Perls naquilo que ele chama de inteligência ou sabedoria natural do organismo. O Organismo como um TodoUm conceito fundamental subjacente ao trabalho de Perls tem sua formulação explícita, como vimos, a partir do trabalho dos psicólogos da Gestalt. Na teoria de Perls, a noção de organismo como um todo é central, tanto em relação ao funcionamento orgânico quanto à participação do organismo em seu meio para criar um campo único de atividades. No contexto do funcionamento intra-orgânico, Perls insistia em que os seres humanos são organismos unificados e em que não há nenhuma diferença entre o tipo de atividade física e mental. Perls definia atividade mental como atividade da pessoa toda que se desenvolve num nível mais baixo de energia que a atividade física. Esta concepção dos níveis de atividades do comportamento humano levou Perls a sugerir que qualquer aspecto do comportamento de um indivíduo pode ser considerado como uma manifestação do todo, do ser total da pessoa. Assim sendo, na terapia, o que o paciente faz ou como ele se movimenta, fala e assim por diante, fornece tanta informação a seu respeito quanto o que ele pensa ou diz.


Esta concepção dos níveis de atividades do comportamento humano levou Perls a sugerir que qualquer aspecto do comportamento de um indivíduo pode ser considerado como uma manifestação do todo, do ser total da pessoa. Assim sendo, na terapia, o que o paciente faz ou como ele se movimenta, fala e assim por diante, fornece tanta informação a seu respeito quanto o que ele pensa ou diz. Além do holismo ao nível orgânico, Perls acentuou a importância do fato de considerar o indivíduo como parte perene de um campo mais amplo, o qual inclui o organismo e seu meio. Assim como Perls protestava contra a noção de divisão corpo-mente, protestava também contra a divisão interno-externo. Ele considerava que a questão das pessoas serem dirigidas por forças internas ou externas não tinha nenhum sentido em si, uma vez que os efeitos causais de um são inseparáveis dos efeitos causais do outro. Há, no entanto, um limite de contato entre o indivíduo e seu meio e é esse limite que define a relação entre eles. Num indivíduo saudável este limite é fluido, sempre permitindo contato e depois afastamento do meio. Contatar constitui a formação de uma gestalt e afastar-se representa seu fechamento. Num indivíduo neurótico as funções de contato e afastamento estão perturbadas, e ele se encontra frente a um aglomerado de gestalten que estão de alguma forma inacabadas ou nem plenamente formadas nem plenamente fechadas. Perls sugeriu que as pistas para este ritmo de contato e afastamento são ditadas por uma hierarquia de necessidades. As necessidades dominantes emergem como ou figura contra o fundo da personalidade total. A ação efetiva é dirigida para a satisfação de uma necessidade dominante. Os neuróticos são freqüentemente incapazes de perceber quais de suas necessidades são dominantes ou de definir sua relação com o meio, de forma a satisfazer tais necessidades. Assim, a neurose acarreta alterações nos processos funcionais de contato e afastamento, e acabam causando uma distorção na existência do indivíduo enquanto organismo unificado. Ênfase no Aqui e Agora


A visão holística levou Perls a dar ênfase particular à importância da auto-percepção presente e imediata que um indivíduo tem de seu meio. Os neuróticos são incapazes de viver no presente, pois carregam cronicamente consigo situações inacabadas (gestalten incompletas) do passado. Sua atenção é, pelo menos em parte, absorvida por essas situações e eles não têm nem consciência nem energia para lidar plenamente com o presente. Visto que a natureza destrutiva destas situações inacabadas aparece no presente, os indivíduos neuróticos sentem-se incapazes de viver com sucesso. Assim, a Gestalt-terapia não investiga o passado com a finalidade de procurar traumas ou situações inacabadas, mas convida o paciente simplesmente a se concentrar para tornar-se consciente de sua experiência presente, pressupondo que os fragmentos de situações inacabadas e problemas não resolvidos do passado emergirão inevitavelmente como parte desta experiência presente. À medida que estas situações inacabadas aparecem, pede-se ao paciente que as represente e experimente de novo, a fim de completá-las e assimilá-las no presente. Perls definiu ansiedade como a lacuna, a "tensão entre o agora e o depois". A inabilidade das pessoas para tolerar essa tensão, sugeria Perls, leva-as a preencher a lacuna com planejamentos, ensaios e tentativas de tornar o futuro seguro. Isto não apenas desvia a energia e a atenção do presente, criando assim situações inacabadas perpetuamente, mas também impede o tipo de abertura para o futuro, decorrente do crescimento e da espontaneidade. Além da natureza estritamente terapêutica deste enfoque ligado à conscientização do presente, uma tendência subjacente ao trabalho de Perls é a apologia de viver com a atenção voltada para o presente, ao invés do passado ou futuro, como algo bom que leva ao crescimento psicológico. Aqui vemos mais uma vez como o trabalho psicológico de Perls está fortemente baseado num contexto filosófico, num tipo de weltanschauung que pressupõe que a experiência presente de uma pessoa, num dado momento, é a única experiência presente possível e que a condição para se sentir satisfeito e realizado a cada momento da vida é a simples aceitação sincera desta experiência presente. A preponderância do Como sobre o Porquê


Uma conseqüência natural da orientação fenomenológica de Perls e de sua abordagem holística é a ênfase na importância da compreensão da experiência de uma maneira descritiva e não causal. Estrutura e função são idênticas e se um indivíduo compreende como faz alguma coisa, esta pessoa está na posição de compreender a ação em si. Segundo Perls, o determinante causal, ou seja, o porquê da ação, é irrelevante para qualquer compreensão plena da mesma. Perls considera que toda ação tem causas múltiplas, assim como toda causa tem causas múltiplas, e as explicações de tais causas nos distanciam mais e mais da compreensão do ato em si. Além disso, uma vez que todo elemento da existência de alguém só pode ser compreendido como parte de uma das várias gestalten, não há qualquer possibilidade deste elemento ser compreendido como sendo "causado" separadamente de toda a matriz de causas da qual participa. Uma relação causal não pode existir entre elementos que formam um todo; todo elemento causa e é causado por outros. Assim, na prática da Gestalt-terapia, a ênfase está em ampliar constantemente a consciência da maneira como a pessoa se comporta, e não em esforçar-se para analisar a razão pela qual a pessoa se comporta de tal forma. Conscientização

Os três principais conceitos da abordagem de Perls examinados até agora, o organismo como um todo, a ênfase no aqui e agora, e a preponderância do Como sobre o Porquê, constituem os fundamentos para entender a conscientização, o ponto central de sua abordagem terapêutica. O processo de crescimento, nos termos de Perls, é um processo de expansão das áreas de autoconsciência e o fator mais importante que inibe o crescimento psicológico é a fuga da conscientização. Perls acreditava plenamente no que ele chamava de sabedoria do organismo. Considerava o indivíduo maduro e saudável um indivíduo auto-apoiado e auto-regulado. Via o cultivo da autoconscientização como sendo dirigido para o reconhecimento da natureza auto-reguladora do organismo humano. Segundo a teoria da Gestalt, Perls sugeriu que o princípio da hierarquia e necessidades está sempre operando na pessoa. Em outras palavras, a necessidade mais urgente, a situação inacabada mais importante, sempre emerge se a pessoa estiver simplesmente consciente da experiência de si mesma a todo momento.


Perls desenvolveu a noção de um continuum de consciência como um meio de encorajar esta autoconscientização. Manter um continuum de consciência parece demasiadamente simples, apenas estar consciente do que estamos experienciando a cada instante. No entanto, a maioria das pessoas interrompe o continuum quase de imediato, e esta interrupção em geral é causada pela conscientização de algo desagradável. Perls desenvolveu a noção de um continuum de consciência como um meio de encorajar esta autoconscientização. Manter um continuum de consciência parece demasiadamente simples, apenas estar consciente do que estamos experienciando a cada instante. No entanto, a maioria das pessoas interrompe o continuum quase de imediato, e esta interrupção em geral é causada pela conscientização de algo desagradável. Assim, estabelece-se a fuga em relação a pensamentos, expectativas, recordações e associações de uma experiência à outra. Nenhuma dessas experiências associadas são de fato experienciadas, elas são tocadas de leve, em flashes sucessivos, sem que haja assimilação do material. O sujeito deixa a conscientização desagradável inicial tão fora do contexto quanto o resto do material. Esta fuga de uma conscientização contínua, esta auto-interrupção, impede o indivíduo de encarar e trabalhar com a conscientização desagradável. Ele ou ela permanece empacado numa situação inacabada. Estar consciente é prestar atenção às figuras perpetuamente emergentes da própria percepção. Evitar a tomada de consciência é enrijecer o livre fluir natural do delineamento figura e fundo. Perls sugeria que para cada indivíduo existem três zonas de consciência: consciência de si mesmo, consciência do mundo e consciência do que está "entre", um tipo de zona intermediária da fantasia. Ele considerava o exame desta última zona (que impede a conscientização das outras duas) como a grande contribuição de Freud. Sugeriu, contudo, que Freud concentrou-se tão completamente na compreensão desta zona intermediária que ignorou a importância de trabalhar para o desenvolvimento da capacidade de conscientizar-se nas zonas de si mesmo e do mundo. Em contraste, a maior parte da abordagem de Perls inclui uma tentativa muito deliberada de ampliar a conscientização e obter contato direto consigo e com o mundo. Ao acentuar a natureza do auto-apoio e da auto-regulação do bem-estar psicológicoPerls não quer dizer que o indivíduo pode existir, de algum modo, separado de seu meio ambiente. Na verdade, o equilíbrio orgânico supõe uma constante interação com o meio. O ponto crucial para Perls é que podemos escolher a maneira como nos relacionamos com o meio. Somos auto-apoiados e auto-regulados quanto ao fato de que reconhecemos nossa própria capacidade de determinar como nos apoiamos e regulamos dentro de um campo que inclui muito mais do que nós mesmos. Perls descreve vários modos pelos quais se realiza o crescimento psicológico. O primeiro envolve o completar situações ou resolver gestalten inacabadas. Ele também sugere que a neurose pode ser vagamente considerada como um tipo de estrutura em cinco camadas, e que o crescimento psicológico (e eventualmente a libertação da neurose) ocorre na passagem através destas cinco camadas. Perls denomina a primeira camada de camada dos clichês ou da existência dos sinais. Ela inclui todos os sinais de contato: "bom dia", "oi", "o tempo está bom, não é?" A segunda camada é a dos papéis ou jogos. É a camada do "como se" em que as pessoas fingem que são aquelas que gostariam de ser. Assim, o homem de negócios sempre competente, a menininha sempre bonitinha, a pessoa muito importante. Depois de termos reorganizado essas duas camadas, Perls sugere que alcançamos a camada do impasse, também denominada camada da anti-existência ou do evitar fóbico. Aqui experienciamos o vazio, o nada, é o ponto em que, geralmente, interrompemos nossa tomada de consciência e retrocedemos à camada dos papéis para evitarmos o nada. Se, no entanto, formos capazes de manter nossa autoconsciência neste vazio, alcançaremos a morte ou camada implosiva. Esta camada aparece como morte ou medo da morte, pois consiste numa paralisia de forças opostas. Experienciando esta camada contraimo-nos e comprimimo-nos, ou seja, implodimos. No entanto, se pudermos ficar em contato com esta morte, alcançare-mos a última camada, a camada explosiva. Perls sugere que a tomada de consciência deste nível constitui a emergência da pessoa autêntica, do verdadeiro self, da pessoa capaz de experienciar e expressar suas emoções. E Perls adverte: "Agora, não se apavorem com a palavra explosão. A maior parte de vocês sabe dirigir um carro. Existem milhares de explosões por minuto dentro do cilindro. Isto é diferente da violenta explosão do catatônico: esta seria como a explosão num tanque de gasolina. Outra coisa, uma única explosão não quer dizer nada. As assim chamadas quebras de couraça da teoria reichiana tem tão pouca utilidade quanto o insight da psicanálise. As coisas ainda precisam ser trabalhadas." Existem quatro tipos de explosões que o indivíduo pode experienciar ao emergir da camada da morte. Existe a explosão em pesar, que envolve o trabalho com uma perda ou morte que não tinha sido previamente assimilada. Existe a explosão em orgasmo em pessoas sexualmente bloqueadas. Existe a explosão em raiva, quando sua expressão foi reprimida e, por fim, existe a explosão de alegria e riso, alegria de viver. A estrutura de nossos papéis é coesiva, pois destina-se a absorver e controlar a energia destas explosões. A concepção errônea básica de que essa energia precisa ser controlada deriva de nosso medo do vazio e do nada (terceira camada). Interpretamos a experiência de um vazio como sendo um vazio estéril e não um vazio fecundo. Perls sugere que as filosofias orientais, a filosofia Zen em particular, têm muito a nos ensinar a respeito da experiência do nada, positiva e geradora de vida, e a respeito da importância de permitirmos a experiência do nada sem interrompê-la. Em todas suas descrições de como um indivíduo se desenvolve, Perls mantém a idéia de que a mudança não pode ser forçada e que o crescimento psicológico é um processo natural e espontâneo. Dinâmica Patológica


Perls considera a fuga da conscientização e a conseqüente rigidez da percepção e do comportamento como os maiores obstáculos ao crescimento psicológico. Os neuróticos (aqueles que interrompem seu próprio crescimento) não podem ver claramente suas necessidades e tampouco podem distinguir de forma apropriada entre eles e o resto do mundo. Em conseqüência, são incapazes de encontrar e manter um equilíbrio adequado entre eles próprios e o resto do mundo. A forma que este desequilíbrio geralmente toma é a pessoa sentir que os limites sociais e ambientais penetram muito fundo dentro dela mesma; a neurose consiste em manobras defensivas destinadas ao equilíbrio e proteção contra este mundo invasor. Perls sugere que existem quatro mecanismos neuróticos básicos, ou distúrbios de limites capazes de impedir o crescimento: introjeção, projeção, confluência e retroflexão. (Na estrutura em cinco camadas da neurose, estes mecanismos de defesa operam basicamente na segunda e terceira camadas). Introjeção Introjeção ou "engolir tudo" é o mecanismo pelo qual os indivíduos incorporam padrões, atitudes e modos de agir e pensar que não são deles próprios e que não assimilam ou digerem o suficiente para torná-los seus. Um dos efeitos prejudiciais da introjeção é que os indivíduos introjetivos acham muito difícil distinguir entre o que realmente sentem e o que os outros querem que eles sintam, ou simplesmente o que os outros sentem. A introjeção também pode constituir uma força desintegradora da personalidade, uma vez que quando os conceitos e as atitudes engolidos são incompatíveis uns com os outros, os indivíduos introjetivos se tornarão divididos. Projeção Outro mecanismo neurótico é a projeção que, num certo sentido, é o oposto da introjeção. A projeção é a tendência de responsabilizar os outros pelo que se origina no self. Envolve um repúdio de seus próprios impulsos, desejos e comportamentos, colocando fora o que pertence ao self. Perls chama a atenção para a distinção entre a projeção como processo patológico e a suposição baseada na observação, que é normal e saudável. Na doença a pessoa seria governada pelas projeções, falhando em reconhecê-las como hipóteses, perdendo os próprios limites e confundindo-se em termos de identidade pessoal. O conceito de projeção enquanto uma disfunção de contato do sujeito com o objeto, tem sido motivo de estudos aprofundados por parte dos teóricos da Gestalt-terapia, desde que Perls a definiu como sendo uma tendência para se desapropriar dos próprios impulsos, uma inclinação em negar e não aceitar as partes da nossa personalidade que consideramos difíceis, ofensivas ou sem atrativos. Com a Projeção esperamos nos livrar de aspectos intoleráveis do self (de nós mesmos) e de nossos conflitos íntimos. A pessoa que projeta não pode aceitar seus sentimentos e ações e por isso os atribui a uma outra pessoa e aí, então, pode reconhecê-los e até criticá-los. O trabalho do terapeuta é ajudar a pessoa a recuperar pedaços de sua própria identidade, pedaços estes que se encontram projetados muito outros. Confluência O terceiro mecanismo neurótico é a Confluência. Na confluência, os indivíduos não experienciam nenhum limite entre eles mesmos e o meio ambiente. A confluência torna impossível um ritmo saudável de contato e de fuga, visto que tanto o primeiro quanto o segundo pressupõem um outro. Este mecanismo também impossibilita a tolerância das diferenças entre as pessoas, uma vez que os indivíduos que experienciam a confluência não podem aceitar um senso de limites e, portanto, a diferenciação entre si mesmo e as outras pessoas. Retroflexão O quarto mecanismo neurótico é a retroflexão, que significa voltar-se de forma ríspida contra. As pessoa retroflexoras voltam-se contra si mesmas e, ao invés de dirigir suas energias para mudança e manipulação de seu ambiente, dirigem essas energias para si próprios. Dividem-se e tornam-se sujeito e objeto de todas suas ações e passam a ser o alvo de seu comportamento. Perls diz que todos estes quatro mecanismos raramente agem isolados um do outro, embora as pessoas tendem a equilibrar suas tendências neuróticas entre esses mecanismos em variadas proporções. A função crucial desses mecanismos é preencher a confusão do neurótico na discriminação de limites. Dada esta confusão de limites, o bem-estar de um indivíduo, ou seja, sua capacidade de ser auto-apoiado e auto-regulado, estaria seriamente limitado. A visão de Perls destes quatro mecanismos é básica na maior parte de sua abordagem psicoterapêutica. Ele considerava a Introjeção como sendo central na luta entre o dominador e o dominado. O dominador se manifesta por um pacote de padrões e atitudes introjetados e, segundo Perls, enquanto o dominador (ou o Superego, de acordo com Freud) permanece introjetado e não assimilado, as exigências expressas pelo dominador continuarão a ser irracionais e impostas a partir de fora. Perls sugeria que a Projeção é crucial na formação e compreensão de sonhos. Sob seu ponto de vista, todas as partes de um sonho são projetadas, fragmentos desapropriados de nós mesmos. Todo sonho contém pelo menos uma situação inacabada que envolve estas partes projetadas. Trabalhar com o sonho é recuperar tais partes e, portanto, completar a Gestalt inacabada. Conceitos  Corpo Perls considera a cisão mente-corpo da maioria das psicologias como arbitrária e falaciosa. A atividade mental é simplesmente uma atividade que funciona em nível menos intenso que a atividade física. Assim, nossos corpos são manifestações diretas de quem somos e pela simples observação de nossos comportamentos físicos, tipo postura, respiração, movimentos, etc., podemos aprender muito sobre nós mesmos. Relacionamento Social Perls considera o indivíduo como participante de um campo do qual ele é, embora diferenciado, também inseparável. As funções de contato e fuga são cruciais na determinação da existência de um indivíduo e esse aspecto de contato e fuga do meio ambiente inclui o relacionamento com outras pessoas. Na verdade, o sentido de pertencer a um grupo, segundo Perls, é o nosso principal impulso de sobrevivência psicológica. A neurose resulta da rigidez na definição do limite de contato em relação às outras pessoas e de uma inabilidade em encontrar e manter o equilíbrio com eles. Vontade Perls acentua muito a importância da pessoa estar consciente de suas preferências e ser capaz de agir sobre elas. O conhecimento de suas próprias preferências leva ao conhecimento de suas necessidades; a emergência da necessidade dominante é experienciada como preferência pelo que satisfará a necessidade. A discussão de Perls sobre preferência está muito próxima do que se chama de vontade. Ao usar o termo "preferência", Perls está enfatizando a qualidade natural e organísmica da vontade saudável. O "querer" é simplesmente uma das várias atividades mentais; acarreta a limitação de consciência a certas áreas específicas a fim de completar um conjunto de ações dirigidas para a satisfação de algumas necessidades determinadas. Emoções Perls considera a emoção como a força que fornece energia a toda ação. Emoções são a expressão de nossa excitação básica, as vias e modos de expressar nossas escolhas, assim como de satisfazer nossas necessidades. A emoção se diferencia de acordo com situações variadas, como por exemplo, pelas glândulas suprarenais em raiva e medo ou pelas glândulas sexuais em libido. A excitação emocional mobiliza o sistema muscular. Se a expressão muscular da emoção for bloqueada, criaremos a ansiedade, que é a contenção da excitação. Uma vez ansiosos, tentamos dessensibilizar nossos sistemas sensoriais a fim de reduzir a excitação criada; é nesse ponto que sintomas como frigidez, se desenvolvem. Essa dessensibilização emocional é a raiz da fuga da conscientização que Perls considera básica na neurose. Intelecto Perls acreditava que o intelecto foi supervalorizado e superutilizado em nossa sociedade, em particular nas tentativas de compreender a natureza humana. Acreditava profundamente no que chamava de sabedoria do organismo, porém via esta sabedoria como sendo um tipo de intuição baseada mais na emoção que no intelecto, e mais em sistemas naturais do que em conceituais. Perls freqüentemente afirmava que o intelecto foi reduzido a um mecanismo de computação usado para tomar parte numa série de jogos de encaixe. A preocupação em perguntar por que as coisas acontecem impede as pessoas de experienciarem como elas acontecem, assim sendo, a consciência emocional genuína é bloqueada em função do fornecimento de explicações. Explicar, de acordo com Perls, é propriedade do intelecto e constitui muito menos que compreender. Self Perls não tinha nenhum interesse em enaltecer o conceito de self a fim de incluir qualquer coisa além do cotidiano, manifestações óbvias de quem nós somos. Somos quem somos. Maturidade e saúde psicológica envolvem o sermos capazes de proclamar isto, ao invés de sermos tomados pelo sentimento de que somos quem deveríamos ser ou quem gostaríamos de ser. Nossos limites estão constantemente mudando na interação com nossos ambientes. Podemos, dado um certo nível de consciência, confiar em nossa sabedoria organísmica para definir estes limites e dirigir o ritmo de contato e fuga em relação ao meio ambiente. Terapeuta  Perls sugere que o terapeuta é, basicamente, uma tela de projeção na qual o paciente vê seu próprio potencial ausente; a tarefa da terapia é a recuperação deste potencial do paciente. O terapeuta age como um catalisador que ajuda o paciente a passar pelos pontos da "fuga" e do impasse; o principal instrumento catalisador do terapeuta consiste em ajudar o paciente a perceber como ele constantemente se interrompe, evita a conscientização, desempenha papéis e assim por diante. (As projeções que estão envolvidas na relação do paciente com o terapeuta fornecem um aspecto bastante significativo da fuga daquele, mas, como mencionamos anteriormente, outros aspectos além dos elementos transferenciais da relação paciente-terapeuta também são considerados importantes.). Referência Ballone GJ - Friederich Perls, in. PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005 * - baseado no livro "Teorias da Personalidade"- J. Fadiman, R. Frager - Harbra - 1980 A Psicologia e o conceito de Auto-regulação Organísmica O conceito de auto-regulação organísmica de Kurt Goldstein é uma das referências importantes do meu trabalho Gestáltico. Todo o organismo se auto-regula. As pessoas, sem perceber, se auto-regulam em cada experiência. Ao interagir com outras, ao se relacionar em seu ambiente e com o mundo, mesmo à distância, tão comum hoje em dia. Nós nos auto-regulamos dando prioridade para a execução de ações que visem à satisfação das nossas necessidades e quando uma necessidade é satisfeita, esta deixa de ser o foco para dar espaço a outra. Porém o grande aprendizado está em fazer auto-regulações da maneira mais saudável possível e isso é muito pessoal. Cada pessoa tem as suas necessidades e as suas razões nas escolhas. E quando estas não estão sendo satisfatórias é preciso experimentar novas respostas, para antigas ações e leituras do mundo. Nós costumamos repetir, mesmo o que não nos faz bem e que no hoje não faz mais sentido. Quando estas repetições levam a erros e sofrimento é porque estamos em uma forma de aprisionamento em padrões de identificações negativos. Estes sempre podem ser revistos e trabalhados. Ao longo da nossa história de vida nós cultivamos padrões e jeitos de "ler", registrar e responder emocionalmente e racionalmente a situações. Então formas de agir costumam ser estabelecidas por nós mesmos e quem está no comando dos cenários são as nossas identificações com jeitos de ver o mundo e de responder a ele. No processo psicoterápico estes são identificados a partir da observação das situações, dos fenômenos que os envolvem. Esta é a primeira parte da terapia. Porém, o maior desafio está na mudança de jeito de viver estas situações. Digo viver porque não é só responder diferente, é também conseguir ver diferente e portanto, sentir diferente. Toda pessoa tem seu um potencial criativo para sobrepor padrões. Algumas custam a deixar este criativo entrar em ação, pois se reinventar lhes parece muito difícil. Parece muito? A minha proposta costuma ser aprender a "trocar os óculos" e assim começar aprendendo a "ler" as situações de forma diferente. "É preciso trocar o óculos de ver a vida". A partir disso podemos nos reinventar com mais pureza menos "contaminados" pelo passado e nos tornar mais leves e de bem com a vida.

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