Hoje compartilho com vocês as reflexões da querida Doris, ela conta um pouco o que tem vivido por conta do Covid. Traz uma ampla visão do seu processo, nos mostrando como esta experiência pode ser difícil e ao mesmo tempo transformadora. O quanto podemos ser convidados a repensar a vida durante e após uma forte experiência destas e o quanto podemos tentar aceitar o processo para, quem sabe, fazermos grandes mudanças.
Reflexões sobre a vida....
Em tempos de pandemia e vivendo um longo processo de recuperação da Covid, em muitos momentos, a angustia e a dor foram protagonistas dos meus dias. Em outros a impotência e o medo me faziam refém. Em quase todos os dias, a sensação de não ter controle sobre meu corpo, minha saúde foram experiências muito duras para mim. Precisamente sobre controlar a vida estava conversando com a Claudia - terapeuta, quando recordei uma situação vivida no Chile. Estava trabalhando com teatro em Robinson Crusoé, uma ilha vulcânica, oceânica, habitada por 700 pessoas, cheia de lendas e belezas, com uma natureza exuberante e montanhas imponentes. A possiblidade de subir a montanha mais alta, de onde podia se ter a vista mais linda do arquipélago era um desejo, desde a chegada. No terceiro mês na ilha, já com coragem de enfrentar seus desafios, consegui combinar com meu namorado para subir a famosa montanha. Planejamos fazer o trajeto em um dia lindo de sol, para garantir tranquilidade no caminho e principalmente, uma vista perfeita! Saímos bem cedo para percorrer caminhando os quatro quilômetros do povoado até montanha e subir os 1500 metros de quase escalada entre plantas, pedras e córregos, até o topo.
Apesar do cansaço, a possibilidade de ver tudo lá do alto era a inspiração para resistir a caminhada e a tal subida. A medida que subíamos a montanha, começamos a perceber que uma neblina se aproximava. Comecei a ficar tensa, mas ainda confiante de que havíamos escolhido um dia perfeito e que tudo daria certo, estava tudo sob controle... Pero, pero...a neblina foi ficando densa, bem densa ! Em poucos minutos estávamos encobertos por uma neblina que era quase chuva. Meu namorado passou a ser o guia de cada passo, pois não era possível ver absolutamente nada. Em algum momento disse que havíamos chegado no ponto mais alto. Eu, sem enxergar nada, fui tomada por uma quase fúria de não acreditar que havia caminhado, subido, cansado e quando chegamos não podia ver nem onde estava muito menos a tal vista exuberante. Apesar de termos feito tudo da melhor forma, não havia dado certo! Frustrada, briguei com ele, comigo, com a ilha, com a natureza, com tudo enfim. Meu namorado, pacientemente, assistia meu destempero. Depois de um tempo, cansei de mim mesma e desisti de seguir brigando. Respirei, soltando minha frustração e me sentei resignada. Fiquei alguns minutos ali, sentada, de olhos fechados, comecei a ficar mais calma e até desfrutar de sensação de estar ali. Neste momento meu namorado me chamou e disse: Mira Dóris! Abri os olhos e comecei a ver que a neblina estava se dissipando!!! Não podia acreditar, comecei a ver as nuvens indo embora e uma incrível vista surgiu Sim! Incrível! Podia ver o sol entre a neblina que dissipava, a vista das outras ilhas, o oceano, tudo tão exuberantes! Em êxtase pela vista, ainda encima, tive a clareza da experiência que havia vivido: quando parei de brigar, de exigir, de querer controlar tudo, as nuvens foram embora e pude desfrutar a vista. Era como se natureza tivesse me dizendo: você não controla tudo Dóris! Quando você para de querer controlar, tem mais possiblidade de sentir, perceber, viver a beleza do instante!
Metáfora para a vida: quantas vezes quero, exijo ter controle sobre tudo e fico mais tensa, cansada, brigo comigo mesma e me frustro. Aprendizado sobre respirar e entender que muitas vezes a possiblidade de viver plenamente está também no exercício de soltar, para poder ver. Isto não significa ser irresponsável ou não se importar, ao contrário, significa fazer o que é preciso, mas sem a exigência de ter controle sobre tudo, afinal a vida eh feita do imponderável também, das surpresas do caminho, assim como a neblina dissipando e descortinando a vista incrível que a vida pode nos apresentar. Aprendizados no caminho...aprendizados!
Por Doris Marroni Furini
Gratidão pela confiança querida Doris!
Claudia Guglieri
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